quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade

“Quando assiste a uma aula de história, cada aluno abre a gavetinha de seu arquivo mental onde guarda os conhecimentos históricos; ao final da aula, fecha essa gavetinha e abre aquela referente à matéria a ser estudada na próxima aula, e assim por diante... E como cada uma das “gavetinhas” é estanque, sem nenhuma relação com as demais, os alunos não conseguem perceber que todos os conhecimentos vivenciados na escola são perspectivas diferentes de uma mesma e única realidade, parecendo cada um deles autônomo e auto-suficiente, quando na verdade só pode ser compreendido em sua totalidade como parte de um conjunto, peça ímpar de um imenso puzzle que pacientemente montamos ao longo dos séculos e dos milênios.”
GALLO, Sílvio. Transversalidade e educação: pensando uma educação não-disciplinar. In ALVES, Nilda e GARCIA, Regina Leite (orgs.). O Sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2000.


Hoje, quando pensamos em educação, formação e qualidade de aprendizado de nossos alunos, nos colocamos frente à complexidade do nosso mundo e da sociedade contemporânea com toda sua diversidade política, socioeconômica e cultural. Esta complexidade por si só, dá margem para nos empenharmos na elaboração de projetos colaborativos no intuito de atingirmos nosso objetivo máximo que é o aprendizado de qualidade por todos.
Este desafio faz parte do cotidiano escolar, onde há diferentes grupos de professores com suas concepções acerca da melhor prática pedagógica, das melhores situações de aprendizagem, da melhor linha pedagógica a ser seguida, bem como parâmetros educacionais aos quais defendem, e que mesmo frente às mudanças da educação, se posicionam e abraçam aquilo que realmente acreditam.
Muitos destes professores elegem suas disciplinas como as mais importantes das áreas de conhecimento, outros estão sempre aptos a se especializarem, buscar novas metodologias que contemplem a complexidade em que se dá a construção do conhecimento, mas ainda não conseguem desenvolver um trabalho em equipe, priorizando seus conceitos e paradigmas. Há outros ainda que já estão totalmente envolvidos com as mudanças e utilizam-se de metodologias de ação-reflexão-ação e da avaliação durante todo o processo da construção de conhecimento dos alunos, buscando parcerias para o trabalho colaborativo, além de formas para atender toda e qualquer diversidade para assim, garantir o aprendizado de todos.
É dentro desta diversidade de professores com suas concepções tão divergentes que precisamos buscar formas de superar o problema apontado de acordo com os novos paradigmas da ciência.
O aprendizado não pode mais acontecer de forma fragmentada com conteúdos de pouca relevância para o aluno, uma vez que estudos já comprovam que o melhor caminho é aquele que o leva a se apropriar do conhecimento, onde o conteúdo trabalhado possui características de objeto sociocultural real, com problemas a resolver, em que ele coloca em jogo tudo o que sabe, garantindo a maior circulação de informações possíveis, levando em conta suas experiências e vivências. Os conteúdos trabalhados devem ser significativos e concretos, que despertem o conflito cognitivo no aluno, para depois, de forma mais complexa, fazer com que ele entenda a abstração globalmente.
Entra em foco a necessidade de o professor trabalhar de forma interdisciplinar, colocando a interdisciplinaridade como eixo articulador que leva o aluno à compreensão dos fenômenos naturais, sociais e culturais. Desta forma o professor deverá proporcionar ao aluno uma compreensão compartilhada e globalizada dos saberes articulados entre as áreas de conhecimento, buscando caminhos de um novo fazer científico que acabe com a desigualdade de conhecimento.
Nada disso acontece sem a contextualização regendo a articulação das disciplinas que compõem a grade curricular, pois sem este princípio pedagógico fica difícil a compreensão global dos conteúdos como acontece quando as disciplinas são ensinadas e depositadas em compartimentos separadamente na cabeça do aluno, como se este, pudesse autonomamente fazer as ligações necessárias para aprofundar seus saberes adquiridos. Quando falamos em protagonismo do aluno e neste como sujeito da construção de seu conhecimento, não podemos deixar que esta autonomia se configure como abandono. A intervenção do professor é primordial enquanto mediador deste processo de desenvolvimento das competências e habilidades do aluno para inseri-lo num campo de conhecimento mais amplo, onde possa se integrar efetivamente na sociedade, como cidadão atuante que interage e interfere sobre esta sociedade, sendo crítico, agente transformador e multiplicador de saberes.
A transdisciplinaridade é outro princípio que possibilita este trabalho coletivo e integrado, pois embora cada um dos campos guarde suas especificidades, há entre eles um intercâmbio permanente, formando novos campos de saberes científicos que concretizam a formação do aluno de forma abrangente e eficiente. Enquanto a interdisciplinaridade possibilita um diálogo entre as disciplinas a transdisciplinaridade promove o aprendizado da complexidade do conteúdo. O professor precisa se apropriar muito bem destes princípios e apoiar-se neles na busca da melhoria de sua prática pedagógica. É necessário pensar em boas situações de aprendizagem que contemple a articulação destes princípios ou a utilização de um ou do outro, desde que o objetivo seja a reinvenção de sua metodologia.
Com base nestes princípios, na cobrança da sociedade contemporânea e na dificuldade de alcançarmos a educação de qualidade que queremos, é preciso pensar a formação continuada do professor para que este alcance o patamar tão desejado quando pensamos no profissional da educação comprometido com os desafios da sociedade atual.
Para isso, é fundamental pensarmos no planejamento conjunto como instrumento que possibilite esta articulação, esta contextualização, que rompa com as fronteiras das disciplinas para que juntas sejam capazes de fazer o aluno ver e entender o mundo de forma holística, em sua rede infinita de relações e em sua complexidade.
Eliana Prado

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